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Colisão em poste e narrativa de acidente dificultaram identificação de tiro que matou jovem em João Pessoa, diz IPC

Polícia Civil e Polícia Científica realizou coletiva de imprensa nesta quinta-feira (24) TV Cabo Branco/Ewerton Correia O Instituto de Polícia Científica (...

Colisão em poste e narrativa de acidente dificultaram identificação de tiro que matou jovem em João Pessoa, diz IPC
Colisão em poste e narrativa de acidente dificultaram identificação de tiro que matou jovem em João Pessoa, diz IPC (Foto: Reprodução)

Polícia Civil e Polícia Científica realizou coletiva de imprensa nesta quinta-feira (24) TV Cabo Branco/Ewerton Correia O Instituto de Polícia Científica (IPC) afirmou que, inicialmente, a colisão com o poste e a narrativa de acidente de trânsito por parte da polícia e do Samu, dificultaram a identificação de um disparo de arma de fogo que matou Guilherme Pereira, em novembro de 2024, no bairro do Muçumagro. A mesma ocorrência também vitimou sua namorada dele, Ana Luiza. A Polícia Militar informou que o caso se tratava de um acidente de trânsito, mas novos laudos, que o g1 teve acesso com exclusividade, confirmaram a presença de um disparo na cabeça do jovem. Segundo a Polícia Científica, o impacto da colisão acabou mascarando as marcas do tiro, o que impediu a correta identificação da causa da morte. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do PB em tempo real e de graça A diretora do IPC, Raquel Azevedo, afirmou que, quando a perícia chegou, encontrou um local de crime que não estava preservado; os capacetes já haviam sido retirados das cabeças e não foi encontrado projétil. Com a narrativa de acidente de trânsito, o perito decidiu não passar no scanner. Raquel Azevedo explica que, de fato, houve um acidente de trânsito, mas não ficou comprovado o que causou a ocorrência. Na época, foram solicitados apenas exames de alcoolemia e toxicológico. Segundo ela, o acidente mascarou a entrada e saída do disparo, e não havia indícios de homicídio. O diretor do Numol, Flávio Fabres, afirma que não sabe o motivo de por que os capacetes não estavam nos corpos. Ele explicou que há uma perícia específica para acidente de trânsito e, por estar claro o motivo da morte, não seria necessário passar os corpos por um scanner que poderia identificar o disparo. Fabres também afirma que a cabeça do jovem não apresentava entrada e saída de disparo, destacando que o projétil de fuzil não é comum ao dia a dia dos peritos. Segundo ele, o disparo penetrou o crânio, se deformou e transfixou a cabeça do jovem. "A gente tem dois corpos que chegam, ambos sem capacete. E a gente procede a necropsia. Durante a necropsia, a gente não encontra nenhuma lesão consistente com disparo de arma de fogo. Não tem nenhum orifício típico, orifício de saída típico de disparo de arma de fogo", destacou o diretor do Numol, sobre a primeira perícia realizada nos corpos de Guilherme e Ana Luiza. Ele explica que foi necessário usar técnicas complexas para identificar microfragmentos do projétil, o que só foi possível a partir da reconstrução do crânio, porque estava explodido. Sobre o laudo do corpo de Ana Luiza, Fabres afirma que ela morreu de politraumatismo, o mesmo motivo identificado inicialmente. À esquerda, Guilherme Pereira, e no lado direito da imagem, Ana Luiza TV Cabo Branco Polícia não vê indicíos de crime na atuação de outros policiais No dia do crime, quatro policiais participaram da ocorrência, mas apenas um deles, Tiago Almeida Filho, foi indiciado. A delegada Luisa Corrêa afirmou que, nos autos do inquérito, não foi possível identificar indícios de crimes cometidos pelos outros agentes, razão pela qual eles não foram indiciados. Segundo o superintendente da Polícia Civil de João Pessoa, Cristiano Santana, caso surjam novas informações que apontem para irregularidades na conduta dos demais policiais, eles poderão ser responsabilizados. Cristiano Santana também destacou que, durante o inquérito, uma testemunha relatou ter ouvido um disparo de arma de fogo, o que foi determinante para que o caso passasse a ser investigado como homicídio. Ele negou que os capacetes das vítimas tenham sido extraviados inicialmente e afirmou que foram realizados exames preliminares e definitivos nos equipamentos. A reportagem entrou com o advogado de Tiago Almeida Filho, policial militar investigado. Na noite da quarta-feira (23), o advogado Luiz Pereira disse, por meio de nota, que já teve acesso ao inquérito e comentou que " a interpretação dos laudos é um pouco diferente do que tem sido ventilado" e que "os elementos que balizam o indiciamento carecem de robustez e durante as próximas fases será possível afastar a autoria". Por volta das 12h30 da quarta-feira (23), a Corregedoria da Polícia Militar lamentou a morte dos jovens e afirmou que está tranquila em demonstrar isenção e imparcialidade. Também declarou que ainda não tomou conhecimento oficial do indiciamento do PM, mas já abriu uma investigação preliminar sobre o caso. Segundo a Corregedoria, foi orientado ao comando da região que fizesse a transferência do PM indiciado do setor operacional para a área administrativa. Também informou que, se outros policiais militares estiverem envolvidos, o caso será apurado. Laudo afirma que jovem foi baleado O jovem Guilherme Pereira, morto junto com a namorada Ana Luiza, após a moto em que estava bater em um poste no bairro de Muçumagro, foi atingido com um tiro na cabeça antes da colisão, é o que revela um laudo da Polícia Civil que o g1 teve acesso com exclusividade. A Polícia Civil também indiciou o policial militar Tiago Almeida Filho, apontado como autor do disparo contra a vítima. O laudo, assinado por três peritos do Instituto de Polícia Científica da Paraíba (IPC), aponta que o cadáver de Guilherme apresenta perfuração transfixante no crânio resultante de tiro de arma de fogo, ou seja, o jovem foi atingido com um tiro na cabeça. O documento constatou que a bala entrou pelo lado esquerdo da cabeça da vítima e saiu no lado direito. Para chegar na conclusão do laudo, os peritos analisaram não somente o corpo do jovem, mas também fizeram análises no capacete utilizado por Guilherme enquanto pilotava a moto. Nessas análises, conforme o documento, houve a constatação de que o capacete também foi perfurado pelo projétil. Relatório da Polícia Civil mostra marcas compatíveis com perfuração por projétil de arma de fogo no capacete da vítima Reprodução Policial militar indiciado O outro documento que o g1 teve acesso trata-se de um relatório da Polícia Civil, assinado pela delegada Luísa Correia, que indiciou o policial militar pois considerou que a munição que atingiu o jovem era "similiar a utilizada em fuzis" da PMPB. No mesmo documento de indiciamento, foi informado que policiais militares que participaram da ronda que seguiu a moto dos jovens em novembro de 2024 tiveram pedido protocolado junto ao Comando da Polícia Militar para verificação das armas utilizadas naquele dia. Dois dos policiais disseram, em depoimento para a polícia, que portavam fuzis durante a ação. O documento diz que “o policial efetuou o disparo de arma de fogo que atingiu o jovem na cabeça e provocou a colisão da moto”. O depoimento dos policiais militares foi colhido pela Polícia Civil e todos os agentes negaram, nos autos, terem atirado contra o jovem, inclusive o que foi indiciado. O policial militar foi indiciado por duplo homicídio qualificado consumado contra os dois jovens. Em relação ao laudo de Ana Luiza, a outra jovem que morreu com o acidente, o laudo que a reportagem teve acesso constatou que uma pancada forte na cabeça foi a causa da morte. Conforme o documento, "nenhum elemento de munição ou fragmentos de munição" foram encontrados no corpo da mulher. A exumação dos corpos e a versão da família Os corpos dos jovens foram exumados em julho, após pedido do pai do jovem, que alega que o casal foi morto a tiros, e responsabiliza policiais militares. Esse caso, que antes era investigado pela Delegacia de Crimes de Trânsito da capital, foi transferido e reaberto para ser investigado pela Delegacia de Homicídios. Os jovens foram enterrados novamente após a exumação na quinta-feira (17), no cemitério Nossa Senhora da Boa Morte, em Bayeux. O pai de Ana Luiza, que estava na garupa quando houve a batida em um poste, Joselito Pereira, afirmou que os jovens foram mortos a tiros e que os disparos foram feitos por policiais militares. Conforme relato do pai, ele solicitou um laudo pericial particular para constatar a causa da morte e, neste laudo, houve o apontamento de que tiros haviam perfurado os corpos dos jovens e que isso causou as mortes. Joselito disse que esse laudo e outros indícios foram estão com a Polícia Civil. Relembre o caso Imagens de circuito de segurança mostram momento em que moto atinge poste TV Cabo Branco/Reprodução Os dois jovens morreram na madrugada do dia 30 de novembro de 2024, no bairro Muçumagro, em João Pessoa. Segundo informações repassadas pela PM à TV Cabo Branco, as equipes policiais foram informadas durante a madrugada sobre uma festa ilegal que estaria acontecendo na região da Praia do Sol. Quando as equipes estavam nesse deslocamento para fazer o patrulhamento, se depararam com três motocicletas em alta velocidade. Ainda conforme o relato da PM à época, os agentes ainda conseguiram parar uma dessas motocicletas, abordou um desses casais. Cada moto tinha um casal. Só que as outras duas motos seguiram, uma foi pela contramão e a outra foi por cima da calçada, que foi nesse momento que o piloto acabou perdendo o controle e batendo com poste. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, mas não houve tempo para socorro. Os dois jovens acabaram morrendo na hora. Exumação dos corpos de Guilherme e Ana Luiza reacende suspeita de crime Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba